Os anos recentes de juros elevados na economia brasileira têm afetado em
particular as empresas de tecnologia, em razão da desaceleração do rápido crescimento inerente
ao modelo com que operam. Para a Valid (VLID3), os resultados do segundo trimestre mostraram
um caso que foge à regra com aumento das receitas e do Ebitda na casa de dois dígitos em suas
verticais de negócios.
A empresa de tecnologia que atua com a integração de soluções de identificação com segurança
para ecossistemas de ID, mobile e meios de pagamento – suas três principais verticais – ampliou em
17% as receitas na base anual no período, para R$ 534 milhões.
O Ebitda foi de R$ 135 milhões, com expansão de 13% na mesma base de comparação. A margem
Ebitda ficou em 25,2%, abaixo dos 26,2% um ano antes.Há dois anos, estava em 13,0%.
“Não é apenas uma história de ganho de eficiência mas também de crescimento. O aumento do
Ebitda no semestre foi de 30%, o que consideramos expressivo porque no ano passado tivemos o
recorde histórico da companhia”, disse Ivan Murias,CEO da Valid, àBloomberg Línea.
Os números de expansão também vieram acompanhados do aumento da geração de caixa
operacional, que ficou em R$ 98 milhões. “Conseguimos ampliar a nossa capacidade de converter
Ebitda em caixa”, disse Murias, citando como fator para essa condição uma amortização de dívida
no fim de 2022.
Essa geração foi equivalente a 73% do Ebitda do período, acima dos 39% de janeiro a março.
“Isso nos ajuda a acumular um caixa para poder eventualmente voltar a olhar para um M&A, como
fizemos recentemente com a Flexdoc, e a viabilizar os nossos fomentos, como o financiamento de
governos digitais e a transformação da indústria do eSIM”, disse o executivo. O eSIM é um chip
digital instalado já dentro do hardware, como um celular, que permite ativá-lo sem a necessidade
de cartão físico.
A Flexdoc é empresa que atua com autenticação e validação de documentos para análise de
fraudes adquirida em maio por R$ 20 milhões à vista mais um valor que depende de seus
resultados.
A geração de caixa também permitiu o pagamento no último dia 31 de julho de Juros sobre o
Capital Próprio (JCP) equivalentes a R$ 0,20 por ação, totalizando R$ 16 milhões referentes ao
primeiro trimestre.
Murias, um executivo com 20 anos de experiência no setor de varejo que assumiu o comando há
três anos, comandou o processo de reorganização dos negócios da companhia nas três verticais
citadas.
No período, a Valid também reduziu a sua alavancagem, um ponto que se tornou ainda mais
observado por investidores e analistas depois da série de crises corporativas dos primeiros meses
do ano.
A empresa pagou R$ 130 milhões de sua dívida bruta no período. Isso se refletiu na queda da
alavancagem para 0,5x a dívida líquida/Ebitda, o menor patamar de sua história.
A ação da Valid acumula valorização de 75% neste ano e de cerca de 50% em 12 meses. O volume
financeiro médio diário de negociação subiu 111% no segundo trimestre em relação ao primeiro e
abriu caminho para a inclusão do papel na primeira prévia do Índice de SmallCaps da B3, que vai
vigorar a partir de setembro.
“Isso tem trazido um acréscimo interessante de volume diário para o papel porque os diferentes
índices que replicam o de small caps são levados a comprar o papel para replicar a performance”,
explicou, apontando que os ganhos têm beneficiado fundos que carregam a ação da Valid há mais
tempo.