Em meio à rápida evolução tecnológica que redefine a forma como cidadãos e governos se conectam, uma questão central precisa guiar nossas decisões: quem está realmente se beneficiando da transformação digital?
O avanço das tecnologias emergentes oferece oportunidades reais para ampliar o acesso a direitos, melhorar a prestação de serviços públicos e aumentar a participação social. Mas também carrega o risco de reproduzir ou até aprofundar desigualdades históricas.
O caminho que trilharmos agora definirá se viveremos um futuro digital mais justo e inclusivo — ou mais fragmentado e excludente. É nesse ponto que a construção de um governo digital acessível, eficiente e centrado no cidadão ganha protagonismo. E é também aqui que empresas visionárias têm o dever de contribuir com inteligência, responsabilidade e antecipação.
Dados recentes do Banco Mundial mostram que apenas entre 7% e 14% dos trabalhadores da América Latina e do Caribe têm empregos que podem delegar tarefas à IA generativa.
E mais: esses postos estão concentrados nas áreas urbanas, no setor formal e entre trabalhadores com maior escolaridade e renda — ou seja, nos segmentos mais privilegiados da sociedade. A mesma lógica se repete em outras tecnologias digitais: o acesso ainda é determinado por fatores como renda, localização e grau de instrução.
No Brasil, por exemplo, quase todos os cidadãos com ensino superior acessam a internet (97%), mas entre aqueles sem instrução, esse índice cai para apenas 12%.
Entre domicílios urbanos, a penetração da internet chega a 92%, enquanto em áreas rurais ainda está abaixo de 75%. Essa desigualdade de acesso é um alerta: a revolução digital não está sendo vivida da mesma forma por todos.
À medida que tecnologias como IA ganham espaço em decisões públicas e privadas, garantir o acesso equitativo aos seus benefícios exige mais do que conectividade ou inovação pontual. É necessário um ecossistema robusto e articulado, capaz de sustentar essa transformação com segurança, transparência e inclusão. É nesse contexto que a infraestrutura pública digital (DPI) desponta como uma alternativa promissora.
A DPI é composta por elementos como identidade digital confiável, sistemas interoperáveis e meios de autenticação seguros — que, juntos, funcionam como as “estradas” por onde trafegam os direitos e serviços digitais.
Assim como uma malha viária conecta cidades, a infraestrutura digital conecta pessoas ao Estado, viabilizando acesso a benefícios sociais, inclusão financeira e participação ativa na vida pública.
Mais do que uma base técnica, a DPI é uma ferramenta estratégica para reduzir desigualdades estruturais. Ao permitir que milhões de cidadãos tenham uma identidade reconhecida digitalmente e possam acessar serviços com autonomia, ela amplia as possibilidades de inclusão social, especialmente para quem historicamente esteve fora do alcance do Estado. E, diante do avanço acelerado de tecnologias emergentes, sua presença pode fazer a diferença entre um futuro digital que integra — ou um que exclui.
Quando a inovação chega na ponta, os resultados são visíveis. Acesso a serviços públicos, inclusão financeira, participação política e geração de renda são alguns dos efeitos mais diretos da inclusão digital bem-sucedida.
Um exemplo concreto é o crescimento da inclusão financeira na América Latina, que teve o maior salto global entre 2017 e 2021: 18% mais adultos passaram a ter uma conta bancária, impulsionados por pagamentos digitais e identidades integradas.
Outro caso emblemático vem do próprio Brasil: o CadÚnico digital já ajudou a registrar milhões de famílias de baixa renda em programas sociais, tornando visível quem antes era invisível para o Estado. E iniciativas de orçamento participativo digital — como as realizadas em Belo Horizonte — mostraram que a tecnologia pode ampliar a voz do cidadão nas decisões públicas, especialmente entre grupos antes excluídos dos espaços presenciais de participação.
Mais do que expandir tecnologias, o desafio agora é garantir que elas estejam a serviço de todos. Isso passa por:
A construção de um governo digital verdadeiramente inclusivo não é tarefa de um único ator — é uma missão compartilhada. O momento pede colaboração, ousadia e responsabilidade. Empresas com visão de futuro, como a Valid, têm um papel essencial ao antecipar tendências, propor soluções tecnológicas acessíveis e atuar como parceiras estratégicas na modernização do Estado.
Mais do que acompanhar a transformação digital, é hora de liderá-la com propósito. Para que a tecnologia seja, de fato, um direito — e não um privilégio.