A economia digital é hoje um caminho fundamental para o crescimento econômico inclusivo no século XXI. Em essência, trata-se de aproveitar tecnologias digitais para gerar inovação, eficiência e novos modelos de negócio em todos os setores – do agronegócio às finanças.
Quando bem conduzida, a digitalização pode incluir mais cidadãos na economia, criando oportunidades antes inimagináveis. Por exemplo, ao facilitar pagamentos e serviços financeiros via smartphones, as tecnologias digitais ajudaram a estabilizar rendas em áreas rurais e aumentaram as vendas de pequenos negócios informais.
Governos do mundo todo perceberam esse potencial e têm investido em governo digital para acelerar essa transformação. Não por acaso, o Brasil desponta como referência: em 2022, foi reconhecido pelo Banco Mundial como o 2º país mais maduro em governo digital no mundo (atrás apenas da Coreia do Sul).
Mas o que exatamente é economia digital e qual o papel do governo nessa equação? Vamos explorar essas questões, com foco no contexto brasileiro e aprendendo com a experiência da Índia ao longo do caminho.
Economia digital refere-se a todas as atividades econômicas impulsionadas por tecnologias digitais, internet e dados. No Brasil, ela não se restringe a startups de tecnologia; ela também permeia setores tradicionais como agropecuária, mineração e indústria, transformando profundamente a forma de produzir e gerar valor.
O agronegócio brasileiro, por exemplo, vem adotando Agricultura 4.0: uso de sensores IoT nos campos, drones para monitoramento de lavouras e análises de dados para aumentar a produtividade. Um estudo recente do BNDES estima que a Internet das Coisas (IoT) no campo pode gerar ganhos entre US$ 5,5 e 21 bilhões no Brasil, dependendo do grau de adoção. Muito além do ganho de capital, entretanto, essa digitalização também traz benefícios sociais, como reduzir o êxodo rural ao conectar jovens do campo com oportunidades semelhantes às das cidades.
Na mineração e indústria de precisão, fenômenos parecidos ocorrem. Grandes mineradoras brasileiras já operam caminhões autônomos e sistemas inteligentes para otimizar a extração, elevando segurança e eficiência nas minas. Na indústria de manufatura, 84,9% das fábricas médias e grandes do país utilizam ao menos uma tecnologia digital avançada, como computação em nuvem, internet das coisas ou inteligência artificial. Essa modernização, frequentemente chamada de Indústria 4.0, trouxe ganhos claros: quase 90% dessas empresas reportam mais flexibilidade e eficiência nos processos graças às tecnologias.
Em resumo, a economia digital brasileira se manifesta tanto nas fazendas conectadas quanto nas fábricas inteligentes, passando pelos serviços financeiros digitais que explodiram nos últimos anos.
Tudo isso contribui para aumentar a produtividade e a competitividade do país de forma inclusiva, integrando pequenos produtores e negócios tradicionais na era digital.
Diante dessa revolução, qual é o papel do governo digital? Em termos simples, governo digital (ou e-gov) é a aplicação de tecnologias da informação e comunicação para simplificar processos públicos e aproximar governo e cidadão. Mais do que colocar serviços online, é uma nova forma de gestão pública que busca eficiência, transparência e participação cidadã. Quando os governos adotam soluções digitais, eles criam um ambiente favorável para a economia digital florescer.
Um governo digital eficiente reduz burocracias e custos para cidadãos e empresas. Abrir uma empresa, emitir licenças ou acessar serviços torna-se mais rápido e menos oneroso, o que incentiva empreendedorismo e formalização de negócios. Além disso, o governo passa a atuar como indutor de inovação: grandes projetos nacionais de pagamento digital ou identidade eletrônica fornecem infraestruturas sobre as quais o setor privado pode construir novos serviços.
Foi o que aconteceu com o Pix, criado pelo Banco Central, que abriu espaço para inovações financeiras e fintechs crescerem apoiadas nessa plataforma aberta. Da mesma forma, a criação de uma identidade digital unificada (como a nova CIN no Brasil) possibilita às empresas verificarem clientes com segurança e ampliarem serviços digitais, desde contratos eletrônicos até e-commerce.
Outro ponto importante é a confiança. Ao liderar pelo exemplo, investindo em segurança cibernética, proteção de dados e qualidade dos serviços online, o governo dá um selo de confiança para a população adotar de vez as transações digitais. No Brasil, o portal gov.br unificou mais de 4.500 serviços digitais federais e já conta com 166 milhões de usuários cadastrados.
Esse alcance massivo só foi possível porque as pessoas passaram a confiar que podiam resolver do celular coisas que antes exigiam idas ao balcão. Em resumo, o governo digital cria o ambiente propício para a economia digital crescer, seja fornecendo infraestrutura (pagamentos, identidade, conectividade) ou definindo padrões de segurança e interoperabilidade que toda a sociedade pode aproveitar.
Nenhuma economia digital será verdadeiramente inclusiva se parte da população permanecer desconectada. O raciocínio é simples: quanto mais brasileiros conectados de forma significativa, maior a base de consumidores, trabalhadores e empreendedores aptos a participar da economia digital.
Por isso, a inclusão digital – levar acesso à internet e habilidades digitais a todos os cidadãos – é um pilar básico. O Brasil avançou muito nesse campo recentemente. Em 2023, 92,5% dos lares brasileiros já possuíam acesso à internet, contra 76,6% em 2016. Isso significa que em oito anos o país conectou 48,3 milhões de pessoas adicionais, chegando a cerca de 163 milhões de usuários online.
Porém, ainda há 22,4 milhões de brasileiros excluídos digitais, em geral famílias de baixa renda ou em áreas remotas.
Mais do que disponibilidade de rede, fala-se hoje em conectividade significativa: garantir não só o acesso, mas que a conexão seja de qualidade, acessível e útil para a vida da pessoa. No Brasil, a disparidade urbano-rural ainda é um desafio – 94,1% dos domicílios urbanos têm internet, versus 81% dos rurais.
Projetos de expansão de banda larga no campo e em periferias urbanas são essenciais para nivelar essas diferenças. Além disso, é preciso capacitar cidadãos no uso das ferramentas digitais. Um terço dos lares desconectados alega que ninguém sabe usar a internet ou não vê necessidade em usá-la.
A jornada brasileira de economia digital inclusiva está em pleno curso, apoiada em iniciativas de governo digital visionárias. O futuro aponta para uma integração ainda maior entre serviços, dados e pessoas através da tecnologia – um futuro em que governos e empresas avançam juntos, cada qual contribuindo com suas fortalezas.
Em resumo, trata-se de colocar a tecnologia a serviço das pessoas, para que cada cidadão – do campo à cidade, do pequeno comerciante ao grande industrial – colha os frutos desta nova economia digital.
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